domingo, 22 de abril de 2012

You're Not Sorry*


Sabe, a minha mãe costuma me chamar de "Maria das Dores". Todos os dias eu acordo com alguma dor nova ou velha e não canso de me queixar. De fato, eu estou cheia de dores: me doem a nuca, os tornozelos, os rins, a boca. Mas o que mais dói é o coração.

Oh, meu coração. Meu roxo coração. Roxo hoje, mas já foi vermelho um dia. Todo alegrias. Eu era tão inocente! Admirava as pessoas ao meu redor, tinha orgulho por tê-los e por poder vê-los crescendo, embora quase todos fossem mais velhos. Eu os tinha como amigos. Meus melhores amigos, e sabe o que mais: eu os amava.

Não acho e não tenho a audácia de pensar que esse amor um dia se acabe, pois sou eu que sinto e eu é que sei o quanto é verdadeiro. Às vezes desejo nunca ter sentido isso, só que... Quer saber? Eu não me arrependo.

Quando digo que não me arrependo, não me refiro a todos os momentos bons que tivemos. Não me arrependo deles também, mas evito pensar nisso (lembranças e pensamentos também machucam, não só palavras). Quero dizer que não me arrependo de ter sido uma idiota que confiou e acreditou que tudo poderia ser um mar de rosas. Na verdade, estou feliz. Fui inocente um dia, e isso me fez mal. Mas também me fez crescer.

Todos os dias quando acordo - alguns dias mais do que outros -, sinto a dor de ter sido decepcionada. E eu já tentei de tudo para que isso acabasse. Mas todo mundo um dia cansa. Hoje é a minha vez. Sinto muito, mas não. Você não está desculpada.



*You're Not Sorry é uma música de Taylor Swift, quem quiser pra acompanhar: 

sábado, 21 de abril de 2012

Um só


- Eu amo. – ela sussurrou insegura, aparentemente para si mesma, com a intenção de tornar isto claro para a sua alma.

- Realmente amas, Sophie? – em silêncio, sua alma sussurrou de volta, rebelando-se ousadamente. – Tem certeza disso? Tem certeza que é capaz de amar?

- Eu amo. – insistiu a garota Sophie, ainda mais insegura - Eu tenho um coração.

- Nem todos que possuem um coração são capazes de amar. – a voz da sua própria alma respondeu de volta, preenchendo sua mente com som das dúvidas e das incertezas.

- Mas eu amo...

- Você não parece ter certeza disso, Sophie.

- Você está errada. Eu amo.

- Não ama. Você é incapaz de amar. Sempre foi.

-E quem é você para dizer isso? Você não é ninguém. Eu amo.

- Eu sou. E se não sou, você também não é. Somos uma só. Você é o corpo, dotado de desejos mundanos e humanos. Eu sou a alma. Perfeita. Sempre perfeita. Capaz de voar e passear em mundos desconhecidos pelo corpo. Eu amo, e não você.

- Eu já disse, está errada!

- Não estou. Pense bem, Sophie. Você se corta porque não é capaz de chorar. Você não ama. Se amasse, chorar seria natural.

- É justamente o contrário. Eu amo. Eu amo demais.

- E o que te faz acreditar nisso? Não engane a si mesma. Você é uma vagabunda que foi tirada das ruas, que não tem gratidão por quem te salvou. Você não ama. Você não sente. Você não chora. Você não vive. Você caiu e não levantou. Você está arruinada.

E assim quebrou-se o elo entre o corpo e sua alma. Nas profundezas do inferno, arrependeu-se a alma. Debaixo da terra, refugiou-se o corpo. E nunca mais se tornariam um só.






Não Me é Permitido Odiar


Se me fosse permitido dizer, eu diria que as odeio. Quem? As pessoas, ora.  As odeio em confidência. Um ódio apaixonado e deslumbrado. Vivo a vê-las brigarem e saírem machucadas, só para alegarem não ter perdido a guerra.
Pessoas mentem, e sorriem como se estivessem bem, brincam e se divertem como se nada fosse importante. Eu poderia até entendê-las – cá entre nós, entendo-as sim. Mas fala baixo, porque não me é permitido entender -, só que estou muito ocupada odiando-as. É que meu ódio permite-me apenas odiar. Então eu odeio.
Mas em segredo. Porque não me é permitido odiar.

Aprazível Borboleta

Um blog criado para postagem de contos e textos de minha autoria. O nome foi dado em homenagem à uma das minhas personagens favoritas, Alexandra Udinov, da série Nikita. "Borboletas são a prova de Deus de que podemos ter uma segunda chance", ela disse. E talvez seja verdade, mas o importante é que, ela certa ou não, eu acredito - e sempre gostei de borboletas.