sábado, 21 de abril de 2012

Um só


- Eu amo. – ela sussurrou insegura, aparentemente para si mesma, com a intenção de tornar isto claro para a sua alma.

- Realmente amas, Sophie? – em silêncio, sua alma sussurrou de volta, rebelando-se ousadamente. – Tem certeza disso? Tem certeza que é capaz de amar?

- Eu amo. – insistiu a garota Sophie, ainda mais insegura - Eu tenho um coração.

- Nem todos que possuem um coração são capazes de amar. – a voz da sua própria alma respondeu de volta, preenchendo sua mente com som das dúvidas e das incertezas.

- Mas eu amo...

- Você não parece ter certeza disso, Sophie.

- Você está errada. Eu amo.

- Não ama. Você é incapaz de amar. Sempre foi.

-E quem é você para dizer isso? Você não é ninguém. Eu amo.

- Eu sou. E se não sou, você também não é. Somos uma só. Você é o corpo, dotado de desejos mundanos e humanos. Eu sou a alma. Perfeita. Sempre perfeita. Capaz de voar e passear em mundos desconhecidos pelo corpo. Eu amo, e não você.

- Eu já disse, está errada!

- Não estou. Pense bem, Sophie. Você se corta porque não é capaz de chorar. Você não ama. Se amasse, chorar seria natural.

- É justamente o contrário. Eu amo. Eu amo demais.

- E o que te faz acreditar nisso? Não engane a si mesma. Você é uma vagabunda que foi tirada das ruas, que não tem gratidão por quem te salvou. Você não ama. Você não sente. Você não chora. Você não vive. Você caiu e não levantou. Você está arruinada.

E assim quebrou-se o elo entre o corpo e sua alma. Nas profundezas do inferno, arrependeu-se a alma. Debaixo da terra, refugiou-se o corpo. E nunca mais se tornariam um só.






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