domingo, 27 de maio de 2012

Um texto qualquer sobre palavras e sentimentos


Sophie balançava mais uma vez. Seu balanço no ritmo do vento. Suas palavras no ritmo da vida. Mas lhe vinham tantas palavras, e nenhuma parecia ser a certa.

Solidão? Angústia? Piedade? Carinho? Mentira? Amizade? Talvez todas essas.

E se a angústia de alguém fosse tão grande a ponto de desejar a solidão para si como uma forma de piedade, tanto para si mesmo quanto para sua amizade? E se a mentira algum dia lhe parecesse a única forma possível de se demonstrar carinho?

Tudo era tão vago. Todas essas palavras, juntas ou não, faziam algum sentido. Porém nenhuma delas dava sentido.

E de tanto pensar e repensar foi que Sophie entendeu. E se ela antes não tinha palavras, agora ela as tinha.

E se viver é sentir, então o que vale é o que você sente.



quarta-feira, 23 de maio de 2012

Minha Formiga


− Sinto falta.
− De quê?
− Da minha formiga.
− Você tinha uma formiga?
− Tinha. Ela era ranzinza e teimosa, mas acabei tornando ela minha. Sim, ela era minha.
− Não é mais?
− Não. Ela pediu pra não ser.
− Por quê?
− Ora, vai ver ela já foi minha por tempo demais. Sugou todo o meu açúcar e foi embora. É o que as formigas fazem, não? Mordem, ou picam, não sei dizer. Uma mordida tão pequenininha que a gente nem repara direito até começar a arder, e a doer. Muito!
− É verdade, mordida de formiga dói. Tome cuidado com as vermelhas!
− Por quê? A minha formiga era vermelha e nunca me fez mal algum.
− Ora, ela te mordeu, não foi? Ou não? São venenosas!
− AAH! Se for com isso que se preocupa, pode parar por ai. Ela não era venenosa, ainda não é. É incompreendida.
− Por que diz isso?
− Porque é uma formiga, precisa de melhor motivo? Ninguém entende realmente as formigas, não os humanos, pelo menos – nem mesmo as crianças. Nem mesmo eu.
− Mas você não tinha uma formiga? Como não entendia uma formiga e mesmo assim a tinha?
− Simples: não era eu que a tinha. Ela que tinha a mim. Mas perdeu. Ou não?


domingo, 13 de maio de 2012

Balanço da Vida


Sophie em seu balanço mais uma vez. Apenas sentada, balançando. Subindo e descendo. Até cair. E junto com ela caem suas lágrimas.

Sophie chora, e chora muito. Seus braços e suas pernas estão ralados – mas seu coração é o que mais dói.

Tem andado tão triste. Já não há sorrisos em seus olhos, nem estrelas em seus lábios. Suas lindas madeixas ruivas perderam a cor, e seu vestido azul – seu favorito – ela já não usa mais.

Por algum motivo, ela não consegue pensar nessa queda como apenas uma queda, mas sim como uma traição. Que irônica a vida. Seu balanço, seu melhor balanço, seu único balanço, seu melhor amigo, aquele que ela pensou que nunca derrubaria ela... Parecia o ponto final.

E se a vida era uma brincadeira, ela já não queria brincar mais. Se a vida era um jogo, ela não queria jogar mais. Se a vida era um balanço, ela não queria balançar mais.

Mas se a vida for apenas a vida... Bem, então ela não queria viver mais.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Por favor, suste.

Querida Sophie,

Esta manhã vi marcas em seu pulso. Pareciam arranhões, mais profundos. Em seu rosto, identifiquei o sorriso de sempre. Um sorriso com todos os dentes, não um sorriso de mentira, mas um sorriso que esconde verdades. Em seus olhos morenos e intensos pude ver ainda mais. Pude ver um apartamento, uma família problemática. Pude ver-te trancada em seu quarto, Sophie. Tentando não chorar, tentando ignorar. Tentando melhorar. Mas você não consegue não é? E ai você corre até o banheiro, uma suíte na verdade. E as giletes...
Depois do que vi em seus olhos, querida Sophie, passei a manhã a me preocupar com você. Juro que tentei ignorar, mas algo dentro de mim não permitiu. Um elo... Uma ligação com você. Ainda agora minha mente está a mil; dançando em passos descontrolados e descompassados, longe do ritmo da música que toca em meu coração. Mas naquele momento... Naquele momento foi pior. Eu não sabia o que fazer, minha [Sophie]. Dúvidas, perguntas, respostas, problemas e possíveis soluções passavam por minha cabeça de uma só vez. Eu não sabia o que fazer. Ainda não sei.
Sabe? Não, você não sabe. Não sabe o quanto eu te amo, porque mesmo eu descobri apenas agora. Descobri que daria minha vida por você.
Estranho, não? Eu me jogaria na frente de um carro ou na frente de um tiro para que você não morresse, bem como nos filmes. Doaria um dos meus órgãos se você precisasse. Afogar-me-ia pra salvar você do afogamento. Mas não sei o que fazer para salvar você de si mesma.
Eu não queria, mas preciso pedir-te. Preciso suplicar-te. Por favor, pare de machucar a si mesma. Pedir não adianta com você, muito menos dar lição de moral - conheço bem minha criança teimosa -, mas não é minha intenção simplesmente reclamar ou tentar te colocar algum juízo na cabeça. Eu te peço com o sentimento, te peço com o coração. Estou aqui para você, espero que saiba. Não só para te ouvir, mas para te abraçar e te amar o quanto você permitir – porque por você meu amor é infinito.
Então, minha Sophie, minha vida, meu amor, minha princesinha. Por favor, suste. Não machuque a si mesma, desconte em mim se quiser, pois não sinto dor, te prometo. Mas não continue seguindo com isso. Sua vida não vale nada que esse mundo pague: nenhuma dor, nenhum sofrimento, nenhum momento. Ninguém. Você merece ser feliz, e para isso eu estou aqui.
Talvez seja um pedido egoísta, mas pare isso. Pare por mim. Porque eu não sei se viveria sem você.

Daquele que te ama e sempre vai te amar,
Seu Leonard.

domingo, 6 de maio de 2012

Sophie acordou de um sonho estranho


Sophie acordou de um sonho estranho.

Sentada em seu balanço, com seu caderno em mãos. Encarava a folha em branco.
E então ela tentava, fazia de tudo, dava o seu máximo para preencher a folha. Mas nunca conseguia. Independente do que tentasse e do que viesse à cabeça.
Palavras iam e vinham. Palavras vinham e iam. Para cima e para baixo, brincando de pique-esconde.

E se escondiam.
E não eram encontradas.

E então Sophie encarava suas mãos. E encarava sua mente.
Pensava em seus sentimentos; e pensava em seus pensamentos. Mas em nada pensava.

Sophie não conseguia encontrar suas palavras. E não conseguia encontrar seus sentimentos.
Nem, ao menos, seus pensamentos.

E ali ela ficava. Condenada sem suas palavras.
Restando-lhe apenas o vazio do papel.




*Nada demais. Um texto ridículo e simples que só serviu mesmo pra apagar essa sensação que tenho pra mim de que nunca mais vou conseguir escrever.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Sophie tinha medo de amar


Em um pequeno vilarejo em nenhum lugar especial, vivia uma menina. Ela amava a cor azul, mas seus olhos eram castanhos. Ela amava livros, mas lia apenas páginas em branco. Vivia numa humilde casa - sem teto, sem chão, sem parede -, onde tinha apenas um balanço; pendurado numa árvore solitário.

Se bem que ele não era assim tão solitário, pois sua menina (seu nome era Sophie) lhe fazia companhia todos os dias, fosse apenas para sentar e ouvir o silêncio, fosse para escrever palavras que não eram escritas, ou ditas.

Sophie tinha um grande segredo: ela tinha medo de amar. Mas ela amava. E como amava! Amava a ponto de escrever poemas vazios – em sentido, mas não em sentimento –, amava a ponto de odiar amar, e, sendo assim, amar odiar. Apenas ela sabia seu desespero ao perceber seu coração agitar-se ao ver certo alguém, ou ao sorrir involuntariamente ao ver apenas um sorriso. Apenas ela sabia como era odiar amar o sorriso dele; que era perfeito, embora ele tivesse dentes defeituosos. E mais do que isso: apenas ela sabia que o sorriso dele era a razão do sorriso dela. Sempre.

E por isso, por amar seu sorriso, ela tinha medo. Porque a cada dia ela amava-o mais. A cada dia era puxada ainda mais pelo imã que ele certamente carregava para causar tamanha atração nela (um imã que não atraia outro imã, pois se atraísse ele já seria dela). E a cada dia ela tinha mais medo de se machucar, de perder tudo. Perder seu amor e sua chance de felicidade.

Perder tudo o que nunca teve. Faça isso sentido ou não, a verdade é que Sophie tinha um segredo. Ela tinha medo. Medo de amar. Mas ela amava, e apenas queria não amar. Porque, afinal, ela não estava apaixonada só por um sorriso.